domingo, outubro 01, 2006

(Re)descoberta

. . . Não sei como só percebi o motivo nessa tarde de domingo. Não sentir vontade de sair de casa era tão obvio. Tenho tudo aqui, na (re)descoberta de um pátio que por pouco tempo, e por desconhecidas razões, abandonei. Sentada numa cadeira amarela, ignorei o livro que segurava. Com o olhar perdido, pensando na solidão que me é reservada a partir de hoje, mas sobre isso já não quero escrever. O que importa é a (re)descoberta do lugar agradável, o qual me desliguei. Lugar de longas conversas, rodas de chimarrão, churrascos em família, disso tudo já foi palco. Mas agora, como bem sei, minhas horas não são mais assim, visto que me vejo na maioria destas sozinhas. E, como ainda me conheço, aprecio esses quase solitários instantes. E ali é realmente um lugar agradável.

Cerca de uma dezena de vasos brancos com bordas roxas ficam na janela da cozinha. Dessas plantas que escondem a vidraça, só conheço por nome a tal samambaia. O chão de cimento só fica quente nas primeiras horas da manhã, quando o sol ali alcança. Ali também posso ficar quando não chove muito forte, é a parte com telhado. A outra parte do pátio é separada por um grande portão cinza que apresenta na parte inferior, através de pequenas manchas alaranjadas, o indício de ferrugem. E é lá o melhor lugar e onde decidi permanecer o resto do dia.

As folhas de uma grande amoreira dão um ar confortante, ainda mais em um dia mormacento de primavera como esse. O chão manchado de roxo abre caminho para outra árvore, menor que a primeira, mas que costumava dar os mesmos frutos. Já não é assim porque sofreu a desgraceira de ter os galhos arrancados.


Mais folhas e flores completam um discreto colorido ao lugar, que visto dos fundos, tem o cinza do telhado da minha casa e o das casas vizinhas confundido com os verdes morros. O canto dos passarinhos é, na maior parte do tempo, a trilha sonora. Não sei se é porque antes não havia prestado a devida atenção, mas nos últimos dias os bem-te-vis são os que mais se destacam. Retrucam meus assobios e não me deixaram descobrir o que passei a suspeitar: a existência de um ninho aqui por perto. Na tentativa de achar, olhando para o alto e sentido uma chata pressão na cabeça, avisto uma branca mancha que não pode ser uma nuvem.


Olha para baixo, coloco no livro o marca página e deixo a dor aliviar. Volto a olhar e vejo entre folhas de árvores que não sei o nome, a meia lua. Prenúncio de mais uma noite agradável, num lugar agradável.
Entro em casa, ligo o rádio e espero o sol ir embora. A vontade de não sair de casa aumenta. Os pássaros que me dêem licença. Vou ouvir mais Beatles . . .

4 comentários:

Temperos e Desesperos disse...

Os pássaros que me dêem licença... ótima frase!!!! =D

Anônimo disse...

O dia tava mormacento mesmo...vontade d ficar!!!
:)

Elisa Fonseca disse...

adorei a nostalgia desse texto
;)

gostei mesmo@

Elisa Fonseca disse...

qdo vai fazer a msma coisa no teu blog?

to esperando :P