sexta-feira, julho 28, 2006

Cinza noite...

. . . - Vanessa! Por que tu tá triste?
Dei um meio sorriso, querendo dizer um “sai daqui e não me enche o saco”.
- Ah, não! Tu sabe que eu não gosto de te ver assim...
-Quem disse que eu tô triste?
- Vai dizer que não tá?
-Não, não tô.
Continuei quieta.
O show de um quase rock que saia de uma guitarra desafinada e um abafado vocal tinha acabado há mais de meia hora.O público já se dispersava e agora se transformava em pequenos bandos de bêbados de merda falando qualquer bosta.
- Claro que tá triste. Olha aí! Fica com olhar perdido...
- Só tô afim de ficar quieta.
- Mas tu sabe que tu fica ainda mais linda quando sorri.
Então, sorri. Para ficar “mais linda”? Hum...Não. Para tentar ser simpática e ver se aquele idiota me deixava quieta. O que não deu muito certo.
- Ah! Tu tá com o olhar vazio.... pára com isso. Não fica assim.
Silêncio. Pelo menos eu mantive silêncio.
- Tá. Tu não quer conversar, né? Quer que eu vá embora? Se quiser eu vou.
Mantive o meu silêncio.
- É sério, Vanessa. Se quiser, eu vou dar uma volta. Depois, amanhã a gente se fala.
Cedi um outro meio sorriso, na esperança que ele fosse embora.
- Mas tu sabe que eu não gosto de te ver assim. E tu tá triste, sim.
- Escuta aqui, cara. Eu não tô triste porcaria nenhuma. Só to a fim de ficar aqui sozinha e olhando para onde eu quiser.
Tomou um gole de cerveja.
- Tá, tudo bem. Mas eu só vou ficar aqui do teu lado.
Mais um gole. Mais um pouco de silêncio. Alguns bandos já tinham dado o fora dali.
- Já sei....Tu tá afim de ir embora, né? Eu te levo...
- Tchê. Tu tá surdo?! Eu quero ficar sozinha, quieta. Não tô a fim de papo e pára de me analisar.
Tomou outro gole de cerveja. “Tá- Pensei- agora vai virar e dizer que vai embora”.
- Mas tu não quer nem me dizer o porquê tu tá triste?Porque não adianta tu me dizer que não tá...
- Escuta aqui. Tu ta vendo aquele cara ali ó...sozinho?

Tinha as orelhas compridas e enrugadas, um bigode branco, assim como a camisa, presa ao cinto marrom que acompanhava a calça social cinza. Cinza também era a cor de seu chapéu. No bolso em frente ao coração, algumas canetas coloridas completavam o figurino. Lá ficou durante boa parte da noite. Em pé, escorado no balcão, com o olhar escondido atrás dos grandes óculos e sozinho. Bicando alguns goles de cerveja e de vez quando, sem muita ansiedade, tragando um cigarro. Seu silêncio transparecia sabedoria, ou pelo menos experiência.

- Tá ...e aí? O quê que tem? Só porque o cara é velho?

Os outros que ali estavam ficaram a se perguntar “o que aquele cara tá fazendo aqui”. E eu só queria saber no que ele pensava. Até pensei em ir conversar com ele. Mas...putz! O cara só foi ali aqui porque queria ficar na dele mesmo. Não queria papo. E deixa ele!
Afinal, era o mesmo O que queria. A única diferença é que eu ainda tenho os meus 19. Levantei-me e fui embora . . .

3 comentários:

Anônimo disse...

VANESSAAAA!!! Q legal!!! Tu vai ter q publicar um livro logo!!! Ficou mto legal esse txto... bem a tua cara... hehehe
bjos!!!

Temperos e Desesperos disse...

Tá mas o q eu quero saber é quem era o meliante ao teu lado???
Isso era DEC, MÉc (eu sei que é Mac)????

Conte-me tudo!

E tô espeando a mocinha vir me ajudar a recortar rifinha!!!

Anônimo disse...

Mas que coisa... tive a oportunidade de conhecer a figura, e tb a mesma vontade de puxar papo com ele, espero um dia voltar lá e poder matar essa curiosidade...
Muito bom o texto, e já sabe no primeiro livro publicado quero a minha dedicatória hehehe
Bjão