terça-feira, maio 01, 2007

Cúmplices . . .

*Para ler ao som de “Wish you were here”

(ou qualquer faixa do disco “O Inimitável”)

. . .
Na verdade...na verdade...sempre o adorei. Mesmo sabendo que ele sentia a coisa mais pura por mim, sem nunca isso admitir. Não chegava a ser orgulho. Qualquer outro sentimento que não este. Agora, após anos de convívio e, sendo os últimos repletos de desentendimentos e angústia, percebo que ele sempre me entendeu. Não aceitava o meu jeito. E ainda não aceita.
Nem sei se ao menos compreende. Acho que entende.

“Não sei porque, Nessa. Mas eu sempre gostei de dormir com os pés assim, pra fora da cama. Cama com guarda pra mim...bah!Tenho pavor.”

Essas revelações compreendo como a mais pura ânsia de intimidade numa relação que nunca vai acabar. Não sei se foi o tempo. Ficamos longe um tempo. Meses, mas que valeram por anos. Talvez ele saiba: estou pronta para viver sozinha.
E daqui a pouco serão mais e mais quilômetros, mais e mais horas de distância.

Disse ainda ontem que sempre soube que essa história de maturidade ele nunca acreditou ter idade. Não sei exatamente o que quis dizer. Se me acha madura, -que palavra horrível, talvez prudente seja menos pior. Isso: se me acha prudente, eu realmente não sei. Ainda soou estranho. “Madura ou prudente?” Ah, indecisão. Indecisa eu? Sim, mas ele sempre está pronto para me ouvir e se irritar com tantas dúvidas.

Mas ele compreendeu até o meu pior porre. E me pediu calma, controle. Não responsabilidade, porque até mesmo quando brigávamos e ele me chamava de irresponsável, sabia eu que era da boca pra fora. Até quando me vê acender um cigarro atrás do outro ele me pede calma, controle. Ele sabe, e só me pede calma, controle.
Não consigo olhar para ele senão com ternura. Afeto sempre tive, mesmo em épocas em que não nos entendíamos por completo, ou fingíamos isso não querer.

Ele me entende sim. E, depois de escrever essas poucas linhas, creio que também me compreende. Sempre me diz “Não é fácil”. E não sei por qual motivo, isso sempre me acalma e me desperta esperança, até em causas que acredito estarem perdidas. Mesmo quando a casa está cheia, ou as ruas repletas de vozes entrelaçadas em diálogos superficiais, ele me confessa. Me confessa seus problemas, anseios e preocupações. Porque ele sabe: não importa os quilômetros e horas de distância. Eu estarei esperando ele -ou indo até ele.


Inúmeras as vezes que me permitiu ficar horas ouvindo músicas e discutindo Beatles, Pink Floyd, Jovem Guarda...E me permitiu presenciar lágrimas tantas outras vezes...ao som de belas canções.
Porque somos assim: cúmplices
e destinados a viver um para o outro . . .

4 comentários:

Temperos e Desesperos disse...

Se estou certa, não sei. Mas se fosse meu, este texto estaria totalmente dedicado ao meu pai. Acertei?

Desimportando a resposta... como sempre, belíssimo texto!

Me sinto bem ao ler teu blog.

Bjo com mto amor de quem te ama de verdade e com prazo de validade indeterminado.

Elisa Fonseca disse...

Morri lendo esse texto!

PQP! Lindíssimo - alias, como a grande parte.


Parabens minha cara amiga.. :*

Unknown disse...

... muito lindo esse texto Nessinha...

Temperos e Desesperos disse...

HUm... hora de atualizar!!!!!!!!!!!!!