terça-feira, setembro 05, 2006

Domingo ou feriado . . .

. . . Era domingo ou feriado. Num desses dias que não se tem muito o que fazer. Tinha decidido que ficaria em casa, mas não tava mais a fim de ler Cortázar. Olhei para o lado e tinha uma pilha, um monte de papel espalhado ao lado da cama. Eram anotações. Olhei de novo e, numa montanha de livros e cadernos, avistei o telefone. Quando pensei em ir pegá-lo, tocou. Maior coincidência se fez quando percebi que a pessoa do outro lado da linha seria bem provável a que eu telefonaria. Só disse que também tava afim e não disse que tava pensando em telefonar para não parecer clichê. Mesmo sendo clichê por ser verdade.

Tava no meu dia mais saudosista dos últimos tempos. Saudades dos dias em que não fazia nada em família. “Deu sorte” ele disse, mostrando logo em seguida aquele lindo sorriso de dentes bem feitos; confesso, uns dos motivos de eu estar a tanto tempo com ele. Tanto tempo os seis meses. A sorte que ele se referia era o trem que tava apitando. Esperamos ele passar em silêncio. Eu não sou de me sentir muito a vontade com ninguém; me aproximei dele e o abracei. Sorriu e me beijou a testa.

Caminhamos pelos trilhos, pisando só na parte de madeira, não se podia encostar na terra. Paramos perto da ponte. Ficamos parados,só olhando os morros. Fiquei a explicar o que era o quê naqueles pontinhos. No céu a gente podia fitar um belo pôr do sol. “Tem um lugar bem legal pra se fazer isso”, eu disse. Corri e fiz ele me seguir no mesmo passo até o arco. Sentamos lá no muro e esperamos o sol ir embora. A rua atrás cortava aquele lugar -tão calmo que parecia ser tão distante da cidade- tava silenciosa e sem movimento. Passavam de vez em quando algumas bicicletas. Aí comecei a contar dos meus passeios de bicicleta e alguns casos.

Ele me olhava de forma terna, afim de demonstrar atenção em cada suspiro meu. Parei de falar. o All Star preto dele começou a chutar a grama morta junto aos montes de terra. “Vamos?”, eu perguntei. Ele só queria saber o porquê- "Tanta pressa?". É que tava começando a ficar frio. Mentira. Tava me lembrando de tantas outras vezes que tinha ido ali com tantas outras pessoas que não mereciam ter sido apresentadas àquele pedaço de terra maravilhosa. Acendeu um cigarro. Voltamos com a mesma brincadeira de pisar na parte de madeira. Me levou até a porta do meu quarto. E eu lhe disse boa noite . . .

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